sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Imortal


“Às vezes você tem que TIRAR uma vida.../pra SALVAR uma vida.”
(Mulher-Gato. P. 95, nº8. Março, 2008. Bimestral.)



Resumo
Imortal, de Anderson Santos

U
ma família de antiquários há gerações, que esconde sob móveis manchas de ódio, de vingança e desespero. Hector, o único herdeiro vivo do sangue Szadkoski, procura o vampiro que matou sua mãe, último de um clã que o próprio Hector destruiu.
E surpresas estarão no caminho que ele trilhará nas ruas de Porto Alegre e da pequena São Sebastião do Caí, ao lado de Dayanna, sua bela e corajosa esposa, uma Szadkoski por opção. Surpresas que mostrarão o quanto o sentimento de vingança pode nos transformar em uma versão distorcida daquilo que odiamos e tememos (segunda capa do livro. Disponível em: guiadoleitor.blogspot.com.br/2010/08/lancamentos-imortal-anderson santos.html).

 * * *

O Romance Imortal, primeira publicação literária do matemático Anderson Santos, narra ao longo de cento e noventa páginas uma história repleta de elementos encontrados na literatura da primeira metade do século XIX, o Gótico. Esta tendência se caracteriza pelo seu aspecto sistêmico de convenções, isto é, a trama é apoiada por elementos que requerem os demais. A tais elementos, denomina-se parafernália Gótica (VARMA, 1966, apud SCHWANTES, 1999, p. 27). Encontramos em imortal uma trama sobrenatural que envolve vampiros, seres que ameaçam a integridade física dos seres humanos; um jovem valoroso, porém, de caráter dúbio, o herói byroniano Hector Szadkoski; Instalações tétricas, sombrias, ameaçadoras e ermas; idosas fofoqueiras; dentre outras características.
Ser caça vampiros implica no extermínio de determinada espécie. Hector Szadkoski enxerga sua missão como uma única chance de manter a integridade dos seres humanos, uma vez que vampiros se alimentam destes. O protagonista não concebe outra opção senão matar as criaturas e não vê problema em se apropriar dos bens delas. Essa intolerância é comparável à argumentação fascista para destruição do outro, um grande medo de ser destruído por esse outro, que é diferente. Hector jamais mataria ou roubaria um ser humano, porém, por serem os vampiros diferentes, ele suspende sua ética.
A relação entre o herói e sua mulher não é horizontal, embora o poder seja sutilmente apresentado. A sutileza está no fato de Dayanna agir segundo uma lógica integrada à sociedade patriarcal; essa naturalidade da divisão de tarefas torna o casamento dos protagonistas uma relação vertical, sem que ele expresse ordens diretas.
Finalmente, a cruzada contra os vampiros representa uma luta entre essências opostas. Enquanto o casal Szadkoski representa a bondade (por mais que essa vá se relativizando), os vampiros são todos caracterizados como monstros assassinos. Em nenhum momento da obra o protagonista pensa que por se alimentar de carne animal é, ao seu modo, predador, assim como os vampiros. Pra não tornar visivelmente banal esse maniqueísmo, a voz narrativa nos informa da megalomania e da forma manipuladora que os vampiros pensam e agem. Essa descrição dos vampiros os aproxima muito da visão ocidental do demônio, enquanto aproxima o homem que luta contra a ameaça do ideal cristão.

A obra de Santos trata essencialmente da liquidez que caracteriza a ética contemporânea, ou seja, a saga de suas pessoas comuns em busca da sua própria humanidade num mundo hostil e desumano (PALLARES-BURKE p.1). Hector e Dayanna lutam contra a degradação do mundo que aparece, metonimicamente, na imagem do vampiro. Este é sacrificado num holocausto pelo bem comum, assim como judeus na Segunda Grande Guerra (1940-1944) e pode também representar o mundo globalizado em que os Estados Unidos da América invadem países árabes com a proposta oficial de exterminar o Mal, o terrorismo.
Porém, assim como o filósofo Noam Chomsky, afirma que o terrorista maior é o Estado “americano” porque é ele quem tem o real poder e o usa contra quem não tem tantos recursos, podemos enxergar em Hector o reflexo do que ele considera inimigo. O sentimento de vingança (a morte de sua família, principalmente da mãe) que move Hector, o torna uma versão distorcida do que acredita e deseja ser. E essa prática é justificada em prol do bem comum. Consonante com isso, o sociólogo Bauman afirma: Veja, por exemplo, o caso das manifestações contra imigrantes que ocorrem pela Europa. Vistos como "o inimigo" próximo, eles são apontados como os culpados pelas frustrações da sociedade, como aqueles que põem obstáculo aos projetos de vida dos demais cidadãos (idem, p.4 – grifo nosso).
Essa ação contra o outro legitima o assassinato, a extorsão como se fossem leis inválidas porque ao outro não é dada a chance de cidadania plena. No caso, a escolha do vampiro mostra a impossibilidade de humanização, semelhante ao judeu, ao negro, ao pobre, à mulher. Essa relatividade ética do caça vampiros, curiosamente, dentro do padrão hegemônico ocidental, (homem, burguês, por volta dos trinta anos, branco, heterossexual) mostra uma percepção individual contraditória; se o personagem fosse questionado sobre o nazismo, provavelmente não compreenderia sua proximidade com tais ideais.
A obra em si, não traz nenhum rompimento com os ideais hegemônicos e isso é observável, sobretudo, pela prevalência, no final, de Hector. Sua mulher, submissa, morre. O Último dos vampiros, o mais forte, também é derrotado. Então à sobreposição da ordem ao caos (representada pelo outro), não importa quantos sacrifícios sejam necessários. Isso é a sobrevivência do maniqueísmo enquanto teoria e a reafirmação da relatividade ética como prática legitimada.

Corpus:
SANTOS, Anderson. Imortal.  Osasco: Editora 21, 2009.

Referencias:

PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. A Sociedade Líquida:
Zygmunt Bauman. Especial para a Folha (disponível em: https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:jHcYkHf0gK0J:www2.oabsp.org.br/asp/comissoes/sociedade_informacao/artigos/modernidade_liquida.pdf+&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESiELPc7yV_01u-XqI85oxu6VJ5xOd4LVH59rihUWb6UNTEelrA63m36wJiQhl2W6fPTEF0Cz5rigztWBtq_PvBgXeNwGq-l4U3ONaZcjLYHP8mc6JHTfnfln_0WEIS-WjnqqDcA&sig=AHIEtbTMF5jGmc4IbWCF6_b8_RtfdfxI3Q).

SCHWANTES, Cíntia. Interferindo no cânone: a questão do Bildungsroman feminino com elementos góticos (Tese), UFRGS, 1997.

sábado, 28 de abril de 2012

Almanaque Gótico #3


Já está a venda a revista ALMANAQUE GÓTICO #3 com o tema "Contos da cidade maldita". São 49 paginas em formato americano, em preto e branco, e capa colorida com muito, muito terror urbano.
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Por:


FELIPE "BRAGI" CAZELLI
FÁBIO TURBAY
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ANNE CAROLINE QUIANGALA - www. brumasnegras.blogspot.com
FABRÍCIO SAADE PAGANI - combustoespontaneas.blogspot.com
EMANNUEL THOMAZ - 
CARLOS BRANDINO
CLÁUDIA GOMES - poesiaaosgritos.blogspot.com
ALEX MIR - fotolog.terra.com;br/defensoresdapatria
CASSIANO PINHEIRO - massivedrawattack.blogspot.com
RAMON "ROST" - www.relurastudio.com.br
PERICLES JUNIOR "PJ" - pjarts.wordpress.com

domingo, 26 de setembro de 2010

Entrevista #2: Vivianne Fair

Por Tyr Quentalë

Muitos dizem que Brasília deveria ser a capital da cultura e da música, mas podemos ver que vários artistas de outros estados parecem ter mais destaque no meio cultural do que os brasilienses. Portanto, tendo em mente tal idéia, aceitei a proposta de entrevistar a autora e quadrinista Vivianne Fair que deu o ar da graça no debate ocorrido na Livraria Cultura da Casa Park sobre Mulheres nos Quadrinhos.

B.N.: Pude observar em seu debate que desde nova você sempre se dedicou às artes e à busca de melhorar as áreas que já domina, mas também percebo muitos jovens habilidosos deixando seus sonhos de lado por falta de incentivo. Qual conselho você poderia dar a esses jovens?

Vivianne Fair: Não desistam desses sonhos; tenham sempre em mente seus objetivos e planos. Incentivo raramente vem ou não vem; estude e melhore suas técnicas, mas não fique parado esperando a grama crescer. Busque contatos, divulgação, e não se fixe só nisso, afinal, você tem que ter vários recursos. Pode ter que investir também. Se é o que quer, lute por isso, ninguém vai realizar seu sonho por você.

B.N.: Em se tratando da área de quadrinhos é comum observarmos que se trata de um mundo dominado pelos homens e que ainda é visto como leitura para crianças. Quais são as maiores dificuldades que as mulheres encontram ao apresentarem seus projetos às Editoras?

Viviane Fair: Muitas editoras acham que a mulher não dará conta do que elas têm em mente. Graças a deus nunca encontrei ou não percebi a discriminação; procuro apenas editoras que tem a ver com meu trabalho, mas tem algumas que nunca me responderam. Não sei se isso se deve ao fato de eu ser mulher, mas acredito que não. Infelizmente a HQ é sim, vista como uma leitura para crianças e na maioria das vezes não é o caso.

B.N.: Ainda se tratando de quadrinhos, como o público tem reagido ao perceber que as mulheres também estão ganhando destaque como roteiristas de HQs?

Viviane Fair: Normalmente a reação é arregalarem os olhos e dizer: “VOCÊ? Quadrinhos? Que legal!” E acabam se interessando pela curiosidade, mas normalmente a reação é bem incentivadora.

B.N.: Já na área literária, muitos escritores têm encontrado editoras que estão se abrindo para novos talentos. Em alguns casos o batismo se dá por contos em antologias, e em outros já podemos vislumbrar os livros solos de alguns escritores. Com dois livros no mercado, você diria que esta área está realmente mais aberta ou ainda possui muitas dificuldades a serem superadas?

Viviane Fair: Dificuldades não deixarão de existir, mas sinto que o mercado tem estado mais aberto. Apesar da constante luta de espaço dos autores nacionais em relação aos estrangeiros, se não fossem estes últimos, os nossos jovens talvez não estivessem tão abertos à leitura como estão agora. As editoras agora estão notando o potencial brasileiro, graças aos pedidos desses mesmos jovens. É muito gratificante!

B.N.: A grande problemática de Brasília deve-se ao fato de que a cultura não é tão divulgada quanto os problemas políticos. É necessário ir a locais específicos ou fazer parte de grupos para saber o que anda acontecendo na cidade. Eventos como o debate na Livraria Cultura, noites culturais no T-Bone, mostras de filmes no Cine Brasília e até mesmo espetáculos teatrais e musicais, acabam tendo seu publico reduzido pelo fato da pouca divulgação. Desabafe uma forma de revertermos esse quadro e tornarmos a cultura mais conhecida a todos os tipos de público.

Vivianne Fair: É realmente revoltante. Um povo sem uma cultura ou uma educação de qualidade é um povo dominado. Nosso sistema de educação tem permanecido imutável ao longo dos anos, minha mãe leu os livros que li; assim como meu filho tem sido obrigado a ler os mesmos livros. Não há a menor dúvida que os clássicos são interessantes, mas é realmente necessário ficar só nisso? Fantasia, aventura, atualidades, tudo isso é deixado de fora; os autores que estudamos são os mesmos, os livros invariáveis; sendo que muitos desses autores já se foram. Tudo bem que faz parte da nossa cultura, mas os novos que estão surgindo não fazem parte da cultura da mesma forma? Não é hora de abrirmos um espaço para todos? Os jovens não deveriam ter a opção de dizer o que quer ler ou pelo que se interessa? Já tive que aturar jovens dizendo que ‘livro nacional é ruim’. De quem seria a culpa? Do nosso sistema de educação arcaico e acomodado ou dos jovens que não reivindicam seus direitos? Acho que seria necessária uma divulgação gratuita por parte da imprensa. Comerciais, divulgação, grupos de estudo de livros, de repente até uma matéria voltada para isso nas escolas. Se houvesse tanta divulgação como existe de novelas e coisas voltadas ao consumismo desenfreado ou problemas na política, acredito que o povo teria uma educação melhorada, por buscar ele mesmo sua própria opinião.

Para conhecer um pouco mais sobre a autora dos livros A Caçadora e Cavaleiros do RPG, acesse o site Recanto da Chefa

domingo, 19 de setembro de 2010

A DANÇA RUBRA DE LUNNA — CAP. II

A DANÇA RUBRA DE LUNNA
— NOTAS PARA O ESQUECIMENTO —

By Ju Blasina

— CAPÍTULO II —

Amar
Até sentir
A carne viva

Minha vida nas ruas não foi muito longa — como se alguma vida assim fosse... A maior ironia está na semelhança que marca todas as passagens relevantes em minhas mais remotas memórias: a lua cheia. Sai das ruas da mesma forma com que fui entregue a elas – numa noite de lua cheia...



Antes de prosseguir, um aviso:
Não espere deste registro um grande comprometimento com a verdade. Como dito antes, trata-se de um mero exercício mental, uma tentativa de capturar antigas lembranças e atar o tempo a um pedaço de papel, que algum de meus criados converterá para interfaces contemporâneas e linguagem rebuscada, na esperança de torná-lo imortal. Quanta ironia! Pois bem, aviso dado, a história continua...


...Na noite de lua cheia em questão, um cara passou na esquina onde eu dançava. Jogou sobre mim seus olhos cobiçosos, junto a alguma grana e um papel contendo um endereço. Embora eu não soubesse ler, conhecia pessoas que sabiam e, seguindo o bilhete, na mesma noite eu estava empregada. Era um emprego razoável, com menos roupa que eu usava na esquina, porém com mais grana e alguma segurança. Sendo assim, tornei-me dançarina no que seria um estabelecimento intermediário entre os antigos bordeis e as modernas boates de stripe tease.

A coisa funcionava de forma similar ao que é hoje em dia: os caras podiam olhar e pagar por alguma “atenção especial”, mas nunca tocar, a menos que fosse para enfiar uma nota, raramente generosa, dentro de nossas roupas íntimas — enfiar outras coisas em lugares ainda mais íntimos era possível, mas requeria um depósito enorme no bolso do estabelecimento. Em outras palavras: eu fazia lá o mesmo que nas ruas, porém com um pouco mais de dignidade, ou “seja lá qual for” o nome que você queira dar. Pra mim era digno: não trapaceava ninguém, não era mais estuprada por vagabundos, nem me vendia por uma refeição indecente. Ainda me vendia, sim, mas por um preço consideravelmente melhor. E cumprir a cota que a casa exigia não era uma tarefa difícil; não para mim. Na maior parte das vezes eu só dançava, exibia meus dotes e masturbava uns idiotas — sei que parece ruim, mas não era de todo mal — para alguém que cresceu nas ruas, aquilo era barbada!

Muito pior que aturar os idiotas era lidar com as colegas de serviço — cobras exalando veneno por todos os poros. Eu fazia bem o meu trabalho, tentava ficar longe de encrencas e dançava como se cada dança fosse a última, como se dançasse para a lua... O que, em pouco tempo, me rendeu certo destaque acompanhado pelo ódio daquelas vadias. Era até divertido: elas me odiavam, os caras me amavam ou pelo menos pagavam por amor, e isso era ótimo: ganhava muita grana! Embora sempre acabasse a noite zerada, pois metade era da casa, acrescida de taxas pelo quarto, roupas, comida e ar respirado.


E ainda tem quem chame isso de vida fácil: ser enrabada por meia dúzia de trocados de um sujeito fedido, tendo que fingir que isso é ótimo... É, muito fácil! Babacas!


Conforme eu ia pegando o jeito, meu preço subia. O que era péssimo, pois poucos caras podiam pagar e os que podiam eram os que eu menos gostava: gente com grana não presta! Mas pelo menos eu recebia melhor, tinha meu próprio número no palco e já não precisava “dar/vender” tanto, a menos que eu quisesse e, por prazer, raramente eu queria.

Raramente, até aquela noite... Enquanto eu dançava, vi um cara— tá, tinha um monte deles, mas eu nunca os via. Aquele eu vi: sentado no bar, me olhando de longe, o desejo brilhava em seus olhos e eu os vi... Ele tinha uma cara de canalha, cabelo caído no rosto, barba por fazer, usava um jeans gasto e uma camisa branca um tanto justa no braço. Tinha uma jaqueta de couro sobre o ombro e calçava botas.

Assim que acabei o show, fui até o bar — não lembro o que eu vestia, mas provavelmente era uma roupa de show, o que era absurdo para os padrões da época, mas talvez fosse apropriado para usar na praia, se eu pudesse ir a uma, nos dias de hoje. Sentei no banco ao lado dele e pedi uma bebida ao John, o barman. O cara me deu uma olhada de canto de olho e um sorrisinho torto...

...Nossa! Como era bonito, o desgraçado! Disso, lembro com clareza: ele me olhou daquele jeito que a gente sente e instantaneamente pensa: “putz, tô perdida!” — e estava.

Ele pagou minha bebida e perguntou o meu nome. Respondi, em tom irônico:
— Tá no cartaz da porta, não leu?
— Não, não consegui reparar, entrei distraído — disse ele, com aquele sorrisinho safado que deveria ser proibido!
— Ah... E o que foi que te chamou tanta atenção, alguma dessas vadias?
— Talvez sim, talvez não, me diga você! — agora ele falava mais sério ou se esforçava para assim parecer.
John, que acompanhava nosso joguinho, através do espelho, enquanto limpava os copos, sabia que muitas vezes essas coisas acabavam mal e, como era meu amigo, permanecia atento. Se existe algo que não mudou em décadas, é a clientela desse tipo de lugar – aparece todo tipo de maluco! Mas aquele maluco era tão bonito, mas tão bonito que valia o risco. Continuei dando assunto:
— Difícil responder. Têm tantas delas aqui! A maioria, pra te dizer a verdade. Se tu disser como ela é...
— Se for uma vadia, é a melhor peça do lugar, talvez a melhor que eu já tenha visto! Pena que não goste de vadias...
— Bom, nesse caso... Pena pra elas, sorte pra mim! — sorri, roubando um gole da bebida dele.

Ele riu de novo daquele jeito perigoso e me olhou de um jeito que... Nossa, foi praticamente uma estocada! Suspirei fundo. Ele continuou:

— E então, vais me dizer como ela é? Tô doido pra saber...
— Hm, bom... O nome é Lunna, mas apesar de trabalhar aqui, ela não é vadia, só uma dançarina. Ela é quase tudo o que dizem ser, quase tudo o que mostra, só que melhor! – disse minha antiga eu, estúpida e egocêntrica.

Ele balançou a cabeça devagar, concordando, enquanto pegava o meu copo e bebia.

— Me diz uma coisa então, Lunna: como é que eu posso saber a diferença entre uma vadia e uma dançarina? Porque, pra mim, mesmo ela parecendo esperta e sendo um tesão, ainda parece uma vadia.

Senti meu rosto queimar de raiva. Cuspi a bebida de volta, no copo dele. E estava pronta pra virar a mão naquela cara de cafajeste, mas vi o sinal do John, pedindo para eu baixasse a bola, e baixei – esse tipo de encrenca significava ser posta na geladeira e ficar sem grana por um baita tempo, como na vez que arrebentei uma das “piranhas cascavéis”. Então, respirei fundo e me levantei para sair. Foi quando senti aquela mão forte pegando meu braço. Ele encostou a boca no meu ouvido e disse:

—Calma... Eu não quis te ofender. Só perguntei porque tô realmente interessado. Muito interessado! Se eu quisesse só uma transa, pagava por uma e não faria diferença se tu é vadia ou não, não achas?

John, ao ver o cara me pegando do meu braço, fez sinal para um dos seguranças. Num movimento brusco, desvencilhando meu braço daquela mão áspera, sem me afastar sequer um passo de onde eu estava – colada nele! Fiz um sinal com a cabeça, para o John ficar frio, e encostei no canalha – minha boca, a menos de um palmo da dele.

— Olha cara, se tu não gostas de vadias acho que vieste ao lugar errado e se tu queres saber, não tenho que provar porra nenhuma ao meu respeito pra um carinha qualquer de boate. Porque, mesmo tu sendo bem gostosinho, ainda parece um babaca!

Sai enfurecida, batendo o salto pelo salão, enquanto ele ria pelas minhas costas – ainda podia ouvir sons vindos do bar, um misto de vaias e palmas – os caras adoram por lenha na fogueira, e essa já tava ardendo!


Quando deixei a boate, quase de manhã, lá estava o sujeito desaforado, encostado numa moto daquelas grandes de viajar – Harley? Acho que é isso, ou o equivalente da época. Já não eram cavalos, disso eu tenho certeza! Sorri – por dentro – mas por fora tinha que parecer difícil.

— O é que é que um babaca faz parado aí? Esperando uma vadia, é? Ou será que tô enganada? Vai ver, não se trata só de um babaca, mas sim, de um daqueles tarados covardes que gostam de bater... Bom, vou logo avisando: não vai ser assim tão fácil quanto pensas!

Ele balançou a cabeça com um sorrisinho debochado e caminhou na minha direção

— Nem uma coisa, nem outra. Mas tens razão: Eu sou mesmo um babaca, o maior deles! Desculpa aí, vai... Posso começar de novo? Oi, meu nome é Brad - e esticou a mão para mim.

Fui pega de surpresa – já tinha a mão no bolso, segurando um canivete, mas respirei fundo... E resolvi dar uma chance a ele. Não era algo do meu feitio, mas... Sei lá, acho que olhei pra ele ali, esperando até amanhecer só para me pedir desculpas, depois de tudo o que eu havia dito... Ah, e ele era tão lindo! E eu, tão sozinha... Uma conjunção de fatores que me fizeram tomar aquela decisão idiota... Hoje eu sei disso – entre rostos borrados pelo tempo, ainda vejo os olhos dele e quase ouço aquele sorrisinho safado... Não dá pra escolher o que se apaga – Infelizmente, as memórias nos traem!

Aquele foi o começo do fim. Ou daquilo que eu acreditava ser o fim. Enfim, aquele foi o começo de toda a merda que se tornou a minha vida, enquanto eu tive uma. Eis a prova de que “não há nada ruim o suficiente que não possa ser piorado”. Especialmente quando a desgraça vem tão bem embrulhada – e aquele, era um embrulho e tanto! Um embrulho que eu tive o prazer de desfazer, de todas as formas possíveis.



Despindo
Ao abrir o casaco
De pele viva estava
Enfim: nua e crua


...continua...


Leia o início desta história em BRUMAS NEGRAS E-ZINE Nº1

sábado, 11 de setembro de 2010

Noturna









por Black da Silva


BIOGRAFIA

Noturna é uma banda brasileira de Gothic Metal da cidade de Belo Horizonte. Formada em Agosto de 2002 por Vivian Bueno (Vocal), Fábio Bastos (Vocal e Guitarra), Victor Munhoz (Piano e Sintetizadores) e Guilherme Carvalho (baixo) visando mesclar as diversas influências de cada integrante.

Durante algum tempo a banda não tinha um baterista fixo e precisava ensaiar com bateria seqüenciada; enquanto isso, Fabio Bastos se dedicava às composições da banda. Em janeiro de 2003 o baterista Rafael Costa se juntou a banda e começaram então os preparativos para a gravação do Cd demo Symphony of Decadence , e os shows de divulgação.

O álbum foi lançado em agosto de 2003 e obteve uma ótima aceitação de crítica e público, fazendo com que a banda conseguisse excelentes oportunidades com a gravadora Hellion Records, a abertura do Show do Moonspell, em Belo Horizonte, e a aparição no Jornal Hoje da Rede Globo.

O contrato com a Hellion Records foi firmado no final de 2004, e o debut Diablerie lançado pela mesma em Dezembro de 2005.

Em Dezembro de 2006, Fábio Bastos anuncia sua saída da banda. Em entrevista à Metalclube Fábio confessa estar desanimado com o estilo Gothic metal e com bandas com vocais femininos e que esse foi um dos motivos que o levaram a sair da banda.

A banda começa a procurar por um novo guitarrista. Em março de 2007 é anunciado que a banda havia encontrado um novo guitarrista, mas não havia divulgado seu nome. Depois de um mês de mistério, Sérgio Barbieri assume as guitarras e os guturais da banda.

Pouco depois da estréia de Sérgio no Gates of Darkness, Guilherme Carvalho anuncia seu desligamento da banda por motivos pessoais. Nesse período o Noturna estava em fase de composição e começou então a procura por um novo baixista.

No início de 2008 começa a ensaiar com o Noturna, assumindo o baixo e vocais limpos Alan Curátola, mas o nome só é divulgado no show de Eliminatória do Wacken Metal Battle, em BH, em Abril do mesmo ano.

Em Novembro, ainda de 2008, a banda participa da sessão de autógrafos do Nightwish, que aconteceu no Hard Rock Café em Belo Horizonte e surpreende com a ausência de Victor Munhoz nos teclados, sendo apresentada assim a mais nova integrante da banda: Laura Pataro. Após o show, a banda explicou na internet que problemas internos culminaram com a saída de Victor Munhoz.

Atualmente a banda está gravando o seu segundo álbum, no Estúdio WZ, em Belo Horizonte. O disco está sendo produzido por Alan Wallace e André Márcio da banda Eminence, ainda sem data de lançamento.

ANÁLISE DAS MÚSICAS

O cd Diablere é todo muito bom. Dentre as músicas que se destacam mais estão “Tears of Blood” e “Evil Heart”; a segunda se destaca mais porque é a mais bem trabalhada juntando vários tipos de vocais como lírico, gutural, coros e vocal masculino limpo como o de André Mattos. T ambém se destaca a faixa que dá nome ao cd “Diablere” e a segunda música intitulada “Remembrance of Dying”. Na maioria das melodias eles adotam um tom muito agressivo com guitarras bastante distorcidas e vocais guturais “nervosos”, tudo isso com o contraste da voz angelical de Vivian Bueno que consegue acalmar os ânimos. As letras seguem o mesmo clichê das bandas de gothic metal, sendo as temáticas predominantes a solidão e as trevas. No entanto, isso não importa, afinal é um clichê ótimo!

UM POUCO DA HISTÓRIA DOS GÓTICOS

Bom, o termo gótico originariamente GODO, era o nome de uma das tribos germânicas. Com o decorrer dos anos o termo gótico foi usado em várias artes e, até mesmo, na moda; dentre essas artes estão a pintura cujo inicio ocorreu na Itália por volta do séc. XII. Um renomado pintor desse estilo é GIOTTO; uma das características predominantes da pintura gótica era a perspectiva já que os pintores queriam criar espaços que pareciam reais. O termo gótico aparece na arquitetura também por volta do séc. XII, nas catedrais, e se espalhou muito rápido pelo leste europeu trazendo nela inovações em rel
ação ao período medieval. Durante quatro séculos, a arquitetura gótica desenvolveu-se radicalmente; os elementos de arquitetura foram aperfeiçoados, o interior das novas catedrais passou a possuir luminosidade e também a ser exuberantemente altas.

Já na contracultura, o chamado gótico é um estilo de vida. Tal estilo de vida teve maior repercussão nos anos 70, especificamente no Reino Unido. Esse modo de vida abrange desde música, moda específica e filosofia. Na música os termos abordados seguem temáticas como decadência, depressão, escuridão e, muitas vezes, temas religiosos. Os pioneiros da música gótica são o Bauhaus, o Sisters of Mercy e, é claro, o The cure que, além de ser precursor musical criou o visual e o estereótipo do chamado gótico, ou seja, o uso constante de roupa preta e maquiagem pesada. A banda Noturna é um grande exemplo desse tipo de música, pois une todos os “clichês” visuais e musicais góticos tais como roupa preta, maquiagem pesada e muita “obscuridade” nas letras.

Bom, terminando o estilo de vida gótico e passando para o visual deles, bom... Aposto que ao ler isso você logo imaginou uma pessoa vestida de preto e realmente é assim que eles se vestem. A cor Preta como tonalidade predominante acompanhada à uma postura tida como juvenil, é geralmente um arquétipo do mainstream[1]. A cor preta, como representação estética, geralmente é acompanhada de uma, ou mais cores adicionadas de forma peculiar para compor os visuais dentro dos estereótipos variante do Gótico. Como simbolismo, a semântica pode variar de indivíduo para indivíduo, ou estar praticamente ausente, permanecendo como apenas questão de estética.

O gótico na literatura teve início no séc. XVIII, na Inglaterra, especificamente com a publicação do livro O castelo de Otranto de Horace Walpole. Costuma-se destacar, como algumas das principais características desse tipo de literatura, os cenários medievais(castelos, igrejas, florestas, ruínas), os personagens melodramáticos (donzelas, cavaleiros, vilões, os criados ), os temas e símbolos recorrentes (segredos do passado, manuscritos escondidos, profecias, maldições). O romance gótico é uma manifestação essencialmente híbrida, um elo entre o romanesco e o romance no qual uma atmosfera de mistério, aflição e terror prevalece. Os autores góticos investiram na criação de imagens obscuras e representações simbólicas. O medo e o anseio pela morte foram temas centrais nessas narrativas cujos enredos oscilavam entre a realidade verificável e a aceitação de um mundo sobrenatural. Só pra citar alguns autores “góticos” são eles Bram Stoker que fez o aclamado Drácula e Mary Shelley com o seu Frankenstein: ou o moderno Prometeu.

Pode parecer estranho, mas quando as pessoas se referem ao termo gótico pensam em coisas sombrias e escuras, uma contradição com a arquitetura gótica citada.

Comumente ligado à obscuridade, O termo gótico choca conceitualmente com o que as catedrais medievais representaram em termos arquitetônicos. Diferente das catedrais românicas, que eram horizontais e escuras, as catedrais góticas eram longilíneas e claras devido ao uso de vitrais. Não podemos então, ver o termo simplesmente como espelho do que a moda e música dos anos 70/80 nos mostraram. Gótico é mais uma tentativa de entender e se ligar com a natureza superior (a altura das torres), de protestar contra a ordem vigente (o preto significa o luto, a oposição ao caminho que a humanidade está traçando).


[1] Mainstream: “O termo Mainstream inclui tudo que diz respeito à cultura popular, e é disseminado principalmente pelos meios de comunicação em massa. Muitas vezes é também usado como termo pejorativo para algo que "está na moda". O contrário do Mainstream seria chamado de Underground, ou seja, o que não está ao alcance do grande público, sendo restrito a cenas locais ou públicos restritos” (disponível em WWW.pt.wikipedia.org/wiki/Mainstream).


Sítio Oficial: www.noturnaonline.com

Wikipedia: www.pt.wikipedia.org/wiki/Noturna_%28banda%29

Letras: www.letras.terra.com.br/noturna/





Brumas Negras

Um mundo que gera tanto fascínio quanto temor.